Busca sem resultado
jusbrasil.com.br
26 de Abril de 2024
    Adicione tópicos

    STJ determina que bebê deixe abrigo e volte a conviver com família afetiva

    A 3ª turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ), em decisão unânime, concedeu habeas corpus para que um bebê seja devolvido à família na qual conviveu desde os seus primeiros dias de vida até ser levado para um abrigo. Por considerar desrespeito ao Cadastro Nacional de Adoção (CNA), uma ordem judicial determinou a internação da criança.

    No caso, a criança foi entregue pela mãe biológica a um casal poucos dias após o nascimento. O bebê permaneceu com os pais afetivos até os dez meses de idade, quando houve a decisão de transferi-lo para um abrigo, em razão da burla ao CNA. A sentença foi mantida pelo Tribunal de Justiça do Ceará.

    Para o STJ, houve a constatação de inversão da ordem legal imposta pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), em que a opção de institucionalização deve ser a última, e não a primeira.

    De acordo com o relator, ministro Paulo de Tarso Sanseverino, o acolhimento institucional da criança viola o artigo 34, parágrafo 1º, do ECA, o qual prescreve que o acolhimento familiar terá preferência sobre o institucional, observado, em qualquer caso, o caráter temporário e excepcional da medida.

    Além disso, segundo ele, não constam dos autos fatores que indiquem que o convívio fosse prejudicial ao menor. Desta maneira, em sintonia com o ECA, o colegiado determinou que a criança seja reconduzida ao casal com o qual se encontrava, a título de guarda, até o trânsito em julgado do agravo de instrumento que deu origem ao habeas corpus.

    “Essa controvérsia já foi enfrentada por esta Corte Superior, tendo-se firmado entendimento pela primazia do acolhimento familiar em face do acolhimento institucional, em atenção ao melhor interesse da criança, salvante hipóteses excepcionais em que a família substituta não se apresente como ambiente adequado para o convívio do menor”, afirmou o ministro.

    Vínculos afetivos

    Para Fernando Moreira, juiz de direito do Mato Grosso do Sul e vice-presidente da Comissão de Adoção do Instituto Brasileiro de Direito de Família – IBDFAM, a decisão do STJ foi acertada.

    “Claro que não se pode burlar a fila do Cadastro Nacional de Adoção, já que há inúmeros pretendentes que seguiram os passos legais e esperam ansiosos pela chegada do filho. A conduta ilegal da mãe biológica e dos genitores adotivos necessita ser punida pelo ordenamento jurídico, quer na forma de dano moral coletivo, quer pelo crime de registrar como seu o filho de outrem, se for o caso. O que não se pode, a meu juízo, é punir a criança, retirando-a, coercitivamente, do lar onde se encontra e a levando para um acolhimento. Penso que tal atitude constitui uma revitimização para o infante, que já se encontra adaptado e acolhido em uma nova família”, afirma.

    Para ele, a retirada abrupta da criança de um lar é uma das mais violentas formas de agressão que o Estado pode praticar. “Por todos os ângulos que vejo, a maior prejudicada sempre será a criança, o que não podemos admitir. Caberia à rede de proteção e à sociedade terem percebido tal ilegalidade, no início, de modo que o Poder Judiciário pudesse ter agido e acolhido a criança. Como não o fez, após a consolidação de vínculos afetivos, entendo como desastrosa qualquer investida estatal”, destaca.

    Hipóteses do ECA

    O juiz de direito ressalta que o ECA traz expressamente as hipóteses legais em que se admite a não observância ao Cadastro Nacional de Adoção, previstas em seu artigo 50, § 13, quais sejam: I) os casos de adoção unilateral, em que o cônjuge ou companheiro se interessa especificamente pelo filho do outro com quem convive; II) parentes com os quais o infante possua vínculo de afinidade e afetividade; III) nos casos em que haja guarda legal de crianças com mais de 03 anos de idade ou adolescentes, demonstrada a existência de vínculo de afinidade e afetividade, bem como a boa-fé do interessado.

    “Contudo, a jurisprudência tem afirmado que esse rol não é numerus clausus, admitindo-se exceções, como a referida decisão do STJ”, diz.

    Para ele, tais situações excepcionais se justificam em razão da própria principiologia do ECA, que impõe ao magistrado, no momento de decidir o caso concreto, analisar, além da dignidade da pessoa humana (art. 15) e da preferência pelo acolhimento familiar a seu acolhimento institucional (art. 34, § 1º), os princípios previstos no artigo 100 do Estatuto: proteção integral e prioritária; interesse superior da criança e do adolescente; intervenção precoce; intervenção mínima; proporcionalidade e atualidade das medidas de proteção tomadas.

    “Desse modo, à luz dos princípios do Estatuto da Criança e do Adolescente, não vejo como tomar uma decisão diversa daquela proferida pelo Superior Tribunal de Justiça” finaliza.

    • Publicações4569
    • Seguidores502608
    Detalhes da publicação
    • Tipo do documentoNotícia
    • Visualizações176
    De onde vêm as informações do Jusbrasil?
    Este conteúdo foi produzido e/ou disponibilizado por pessoas da Comunidade, que são responsáveis pelas respectivas opiniões. O Jusbrasil realiza a moderação do conteúdo de nossa Comunidade. Mesmo assim, caso entenda que o conteúdo deste artigo viole as Regras de Publicação, clique na opção "reportar" que o nosso time irá avaliar o relato e tomar as medidas cabíveis, se necessário. Conheça nossos Termos de uso e Regras de Publicação.
    Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/noticias/stj-determina-que-bebe-deixe-abrigo-e-volte-a-conviver-com-familia-afetiva/696718627

    Informações relacionadas

    Recurso - TJPE - Ação Habeas Corpus - Cabimento - Habeas Corpus Criminal

    Petição Inicial - TJBA - Ação de Adoção Consensual em Favor da Infante Yasmin de Araújo Santos , Nascida em 04 de Junho de 2014, Conforme Certidão de Nascimento em Anexo, Residente e Domiciliado no mesmo Endereço dos Requerentes; - Adoção

    Petição - TJMT - Ação Bem de Família - Guarda de Família

    Gevaerd e Benites Advogados, Advogado
    Notíciashá 4 anos

    Eu posso perder a guarda do meu filho? Quando ocorre a perda da guarda e quando ocorre a destituição familiar?

    Superior Tribunal de Justiça
    Notíciashá 10 anos

    As consequências do jeitinho brasileiro na adoção ilegal de crianças

    0 Comentários

    Faça um comentário construtivo para esse documento.

    Não use muitas letras maiúsculas, isso denota "GRITAR" ;)